quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

IGREJA DO SALVADOR DE CABEÇA SANTA

Fundada pela rainha Santa Mafalda (filha de D. Sancho I) pelo segundo quartel do século XIII, a igreja de São Salvador da Gandra (como durante séculos foi conhecida) é uma cópia mais modesta do templo de Cedofeita, no Porto, analogia tão flagrante que levou Manuel Monteiro a considerá-la um "arremedo" do monumento portuense.Com efeito, são numerosos os pontos de contacto entre ambas, restando ainda a dúvida sobre a intenção de, em algumas partes, se ter projectado soluções idênticas às de Cedofeita. Uma delas é a opção pela cobertura de madeira no corpo e na capela-mor, que contraria o integral abobadamento da igreja portuense, discrepância que tem vindo a ser atribuida a uma redução do plano original ou a uma simplificação construtiva desde o início do projecto. Mas onde as semelhanças entre os dois monumentos são maiores é ao nível da decoração. Um capitel do portal lateral Sul, onde se representaram dois estilizados dragões de corpo de ave, que inclinam o seu pescoço para morder outros seres dispostos inferiormente na composição, é praticamente idêntico a outro do portal principal de Cedofeita, proximidade que levou alguns autores a reconhecer que os mesmos artistas trabalharam em ambos os templos. Ainda no portal meridional, existe um capitel representando um acrobata de corpo arqueado, formando uma espécie de ponte, que tem sido considerado uma das melhores realizações escultóricas do Românico nortenho.
O interesse do estudo de Cabeça Santa não se resume à sua fase românica. Um elemento importante será o de entender o porquê de uma igreja dedicada a São Salvador ter passado, em data ainda incerta, a ser conhecida como Cabeça Santa. Com grande probabilidade, aqui existiu uma imagem de grande devoção, a ponto de o templo se diferenciar dos demais pelo seu conteúdo ainda mais sagrado. Por outro lado, nas suas traseiras existe um muito bem preservado conjunto de sepulturas antropomórficas escavadas na rocha, cuja datação é anterior ao templo do século XIII, o que aponta para uma ocupação em plena Alta Idade Média, cujo alcance científico só poderá conseguir-se através de uma investigação mais aprofundada do local.Bastante restaurado pela DGEMN, da época moderna resta apenas a Capela de Nossa Senhora do Rosário, espaço quadrangular do lado Norte, revestido por talha e azulejos barrocos. Esta igreja é monumento nacional desde 1927 e está situado na freguesia de Cabeça Santa em Penafiel. Mais um local a não perder pelos penafidelenses.

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